O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira que o aquecimento global pode desencadear “um processo irreversível de savanização da Amazônia”, mesmo que o Brasil cumpra sua promessa de desmatamento zero na região até 2030.
Isso porque, segundo ele, o desmatamento responde por apenas 10% das emissões globais. Lula fez a afirmação durante a Sessão do Segmento de alto nível para chefes de Estado e de Governo, uma das plenárias mais importantes da COP28, em Dubai.
Foi seu segundo discurso em um dia de movimentada agenda nos Emirados Árabes Unidos. “O futuro da Amazônia não depende só dos amazônidas. O desmatamento em todo mundo só responde por 10% das emissões globais. Mesmo que não derrubemos mais nenhuma árvore, a Amazônia poderá atingir seu ponto de não-retorno se outros países não fizerem sua parte”, dis
“O aumento da temperatura global poderá desencadear um processo irreversível de savanização da Amazônia. Os setores de energia, indústria e transporte emitem muitos gases do efeito estufa. Temos que lidar com todas essas fontes.”
Lula afirmou que “a emergência climática já é uma realidade” no Brasil. E citou a seca na Amazônia como exemplo. “A Amazônia está atravessando, neste momento, uma seca inédita. O nível dos rios é o mais baixo em mais de 120 anos, disse. “Nunca imaginei que veria isso no lugar onde estão os maiores reservatórios de água doce do mundo.”
Assim como já havia feito na abertura da conferência, o presidente voltou a cobrar dos países ricos a promessa de US$ 100 bilhões anuais para mitigar os efeitos da crise climática em nações mais pobres. “Os mais vulneráveis não podem ter que escolher entre combater a mudança do clima e combater a pobreza. Terão que fazer ambos. O princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas é inegociável. Ameaçá-lo vai na contramão de qualquer noção básica de justiça climática. Essa noção demanda que sejam cumpridas as obrigações de financiamento, de transferência de tecnologia”, disse.
“É inaceitável que a promessa de 100 bilhões de dólares por ano assumida pelos países desenvolvidos não saia do papel enquanto, só em 2021, os gastos militares chegaram a 2 trilhões e 200 bilhões de dólares.”
Para Lula, “os países em desenvolvimento requerem incentivos positivos para promover medidas de ação climática alinhadas às suas prioridades de desenvolvimento”.
Lenda amazônica
Ele classificou a crise climática como “o maior desafio já enfrentado pela humanidade”. E disse que, “em vez de unir forças, o mundo trava guerras, alimenta divisões e aprofunda a pobreza e as desigualdades”.
Em sua fala, o presidente reiterou a proposta brasileira de limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5 grau em relação ao período pré-Revolução Industrial. Mas disse que há “um problema coletivo de inação, outro de falta de ambição” que dificultam a obtenção desse objetivo.
Lula se referiu às NDCs (metas voluntárias de redução de emissões feitas por cada país no Acordo de Paris, em 2015), afirmando que elas “não estão sendo implementadas no ritmo esperado”.”E, mesmo que estivessem, não conseguiriam manter a temperatura abaixo do limite de um grau e meio”, disse. “O Brasil ajustou sua NDC e se comprometeu a reduzir 48% das emissões até 2025 e 53% até 2030, além de atingir neutralidade climática até 2050.”
Segundo Lula, a NDC brasileira “é mais ambiciosa do que a de vários países que poluem a atmosfera desde a revolução industrial no século XIX”. “Mantemos o firme compromisso de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030”, afirmou. “Já conseguimos reduzi-lo em quase 50% nos 10 primeiros meses deste ano, o que evitou a emissão de 250 milhões de toneladas de carbono na atmosfera.”
Lula terminou seu discurso de forma poética, citando uma lenda indígena para pregar união contra as mudanças climáticas. “A mitologia indígena diz que o rio Amazonas nasceu das lágrimas da Lua. A Lua teve de abrir mão do seu amor pelo Sol para que a Terra não fosse destruída pelo calor”, disse o presidente.
“Se não deixarmos nossas diferenças de lado em nome de um bem maior, a vida no planeta estará em perigo. E será tarde demais para chorar.”
Fonte: VALOR ECONÔMICO