A saída recente de bancos e gestoras de investimentos de grande porte de alianças internacionais em prol da sustentabilidade não significa um retrocesso na agenda ambiental do setor financeiro. Esta é a opinião de Denise Hills, conselheira de empresas e especialista em sustentabilidade.
“A despeito dos bancos terem saído de alianças globais para se proteger de eventuais riscos de processos judiciais e litígios, isso não significou que eles retrocederam das metas individuais de sustentabilidade”, pontua Hills no painel Finanças Climáticas do evento “Rumos 2025”, organizado pelo Valor nesta segunda-feira (24).
Hills argumenta que o tema se tornou “material” ao setor privado e aos bancos. O termo “material” é usado, neste caso, para se referir a pautas prioritárias que podem representar riscos, mas também oportunidades para as empresas.
A conselheira lembra que ter um painel sobre finanças climáticas em um evento de jornal econômico era “inimaginável” 15 anos atrás, o que reforça seu ponto de que hoje “é impossível fazer boa gestão de risco e de investimento sem considerar o impacto climático no balanço”.
Ela lembra que a regulação avança e ajuda a pressionar as empresas neste sentido. Cita como exemplo a resolução da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que exigirá, a partir de 2027, das empresas listadas a adoção de duas normas padronizadas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB) referentes a divulgação de informações sobre riscos e oportunidades ligados à sustentabilidade e clima, úteis para os agentes econômicos na tomada de decisões.
“Já estamos em um mundo onde a CVM regula a emissão de balanço de empresas de capital aberto que, a partir de 2027, divulgarão balanços com valores econômicos e materiais de ESG, preponderantemente clima”, diz.
Ela lembra ainda que os bancos já consideram o risco climático tanto nas divulgações obrigatórias ao Banco Central (BC), quanto em balanços que são considerados na avaliação do risco de Basileia — indicador que mede a capacidade de alavancagem das instituições financeiras. “É um custo importante para responder a eventuais riscos de chamadas de capital”.
A evolução da regulação e aumento de transparência, para Hills, também ajudará a diferenciar quem pratica greenwashing, ou seja, tem pouca coerência entre o que está falando e fazendo, e quem adota práticas sérias de sustentabilidade. “Quais as empresas são coerentes e quais estão fazendo porque havia uma pressão externa, sem entender quais os riscos e responsabilidades de seu setor?”
Denise Hills finaliza reiterando que o setor financeiro e outras empresas devem também se atentar mais para as oportunidades de se diferenciar no mundo, especialmente dado que a COP30, conferência do clima da ONU, será sediada em Belém no Pará, este ano, em novembro e colocará as potencialidades do Brasil nos holofotes globais.