Levantamento da ONG 30% Club Brazil com a consultoria PwC mostra que o número de mulheres em assentos de conselho de administração aumentou de 16,9% para 20,2% entre 1º de maio e 1º de novembro de 2023, mas o caminho até a equidade ainda é longo.
A análise de informações públicas das 96 companhias que compõem a carteira do índice IBrX 100, das maiores empresas da B3, aponta que apenas 17 chegaram ou ultrapassaram a marca simbólica de 30% de presença feminina.
Entre as empresas avaliadas, só três – Banco do Brasil, Magazine Luiza e Vivara – têm metade ou mais de participação feminina. Segundo a pesquisa 30% Club Gender Balance, quatro companhias têm entre 40% a 49% de conselheiras: Cogna, Porto Seguro, Totvs e M. Dias Branco. Na outra ponta, dez empresas do IBrX não têm nenhuma mulher no board: Cemig, CVC, Meliuz, Usiminas, Grupo Pão de Açúcar, Simpar, CSN, Eneva, Movida e Transmissão Paulista.
Outras dez apresentam entre 30% e 39% de conselheiras e 19 estão próximas de atingir um terço de presença feminina, com 25% ou mais de representatividade. O restante, 50 empresas, tem ao menos uma mulher, mas não chega a 25%. (Veja a lista completa no site valor.globo.com/esg).
Anna Guimarães, conselheira responsável pelo 30% Club Brazil e membro dos conselhos de administração da TIM e da Fundação Usiminas e do conselho fiscal da Viver S.A., diz que há avanços, ao lembrar que há 4 anos só 12% das empresas tinham ao menos 30% de representatividade feminina.
“Oito anos atrás, quando fiz uma transição de CEO para conselheira, o dilema era como promover mulheres. Hoje esse argumento não é mais factível. Todos sabem que precisam dar espaço para mulheres”, comenta. Ela acredita que aumentar o número de suplentes mulheres pode ajudar a expandir o contingente de conselheiras. “Para não correr o risco de substituírem as poucas mulheres por homens em caso de alguma saída.
De acordo com o estudo, o número de assentos no colegiado diminuiu de 863 em 2022 para 821 em 2023. Desse total, elas ocupam 166 postos, ante 141 de um ano antes. A representatividade masculina, porém, é mais do que quatro vezes a feminina. Para a porta-voz, isso sinaliza que há um desafio ainda pela frente.
Para Guimarães, a proliferação de cursos de formação de conselheiros levou mais mulheres a se enxergarem na posição e também tem ajudado para que elas se preparem para quando surgir uma oportunidade. “O mundo já está com olhar de diversidade e equilíbrio de gênero, e isso [mais mulheres em cursos] contribuiu”, diz.
Para Carlos Takahashi, membro do conselho do 30% Club Brazil, a velocidade da mudança dependerá também da conscientização dos executivos sobre a importância da diversidade para a perenidade e lucratividade dos negócios. “Apesar de ter a imagem pré-concebida de que o conselheiro é aquele que fica escrutinando e questionando os números – o que é, claro, um papel relevante sim -, o principal papel do conselheiro é olhar o longo prazo para a perenidade e sustentabilidade do negócio.”
Habilidades necessárias a um(a) conselheiro(a)
Takahashi diz que a velocidade da mudança dependerá também da conscientização dos executivos de que é importante diversidade para a perenidade e lucratividade da empresa. “Apesar de ter a imagem pré concebida de que o conselheiro é aquele que fica escrutinando e questionando os números, o que é, claro, um papel relevante sim, mas o principal papel do conselheiro é o olhar o longo prazo, para a perenidade e sustentabilidade do negócio”, afirma.
Guimarães adiciona que “o conselho não pode ficar dentro da sala”. Precisa conhecer a empresa, ir no chão de fábrica, entender na prática como tudo funciona para tomar decisões, independente do gênero de quem ocupa a cadeira. Outra característica fundamental para o profissional é visão de futuro, de ler tendências de mercado.
Mas, Guimarães ressalva que colocar mais mulheres no conselho não é uma questão apenas de números, é preciso pensar na inclusão. “Não adianta só ter minorias; é preciso que elas agreguem valor na hora de tomar decisão”, diz. Uma sugestão é ter mais minorias em cargos de suplentes, que podem ser, em paralelo, preparadas para assumir os cargos.
Takahashi também destaca que um conselho forte é que tem complementaridade de conhecimentos e habilidades. “Com a maior presença das mulheres nos conselhos, já notamos a percepção de que é por meritocracia e que a diversidade traz benefícios. Com a percepção clara do valor da diversidade, isso contribui para aumentá-la ainda mais, se autoalimenta”, diz. Ele cita que há estudos acadêmicos que indicam que 30% de um grupo minorizado já consegue influenciar uma maioria e isso tende a dar melhores resultados à empresa.
Ele adiciona ainda que mentorias são interessantes para preparar as pessoas. “Havia uma presença muito forte de mentores homens mentorando mulheres, hoje já aumentou o número de mulheres mentorando mulheres; é uma tremenda evolução. Há conselheiras hoje que têm papel brilhante e são reconhecidas dentro do conselho e no mundo corporativo”, aponta.
Fonte: VALOR ECONÔMICO