O meia Lucas Paquetá, do West Ham, foi absolvido por uma Comissão Reguladora acusações de manipulação de resultados por supostamente forçar cartões amarelos para favorecer apostadores. A decisão, divulgada nesta quinta-feira (31), põe fim à principal investigação da Associação de Futebol da Inglaterra (FA) que ameaçava a carreira do jogador brasileiro, mas ainda deixa em aberto uma possível punição por omissão no processo.
Segundo a FA, as “acusações de má conduta contra Lucas Paquetá por supostas violações de manipulação não foram comprovadas”. O atleta era investigado por episódios ocorridos em quatro partidas da Premier League, entre 2022 e 2023, em que teria deliberadamente buscado levar cartões para favorecer amigos e familiares apostadores.
Apesar da absolvição na Regra E5.1, referente à manipulação, a entidade afirma que Paquetá descumpriu a Regra F3 ao não colaborar adequadamente durante as investigações. A entidade ainda vai anunciar uma “sanção apropriada” sobre isso em breve.
“A Comissão Reguladora decidirá sobre a sanção apropriada para essas violações o mais breve possível”, comunicou oficialmente a FA.
Risco de banimento foi descartado
Paquetá chegou a correr risco de banimento do futebol, caso fosse condenado pela manipulação de apostas esportivas. A absolvição encerra esse temor. Com a absolvição, o jogador pode seguir normalmente sua carreira, inclusive em caso de transferência para outro clube.
Especialista aponta falhas no processo
Para o advogado Paulo Marcos Schmitt, especialista em direito desportivo e integridade esportiva, a absolvição acende um alerta vermelho para o sistema de prevenção e julgamento de irregularidades no esporte.
“Embora se respeite a decisão do órgão julgador e o direito de defesa do atleta, é inegável que a forma como o caso foi conduzido e exposto durante mais de um ano impacta diretamente a credibilidade dos mecanismos de integridade”, afirma.
Schmitt destaca que investigações prolongadas e sem desfecho claro colocam em xeque tanto as federações quanto as empresas que monitoram o mercado de apostas.
“Processos que terminam em absolvição após longos períodos de exposição pública deixam uma mensagem perigosa: ou as provas foram frágeis desde o início, ou as ferramentas de detecção não estão sendo utilizadas de forma adequada”, acrescenta o especialista.
Por fim, Schmitt afirma que é fundamental que, para preservar a integridade esportiva e a credibilidade do próprio mercado regulado de apostas, as investigações sejam conduzidas com rigor técnico, celeridade e comunicação clara.
E agora? Decisão é definitiva?
Apesar da absolvição, a decisão não é definitiva. De acordo com o advogado Carlos Henrique Ramos, especialista em direito desportivo, a FA pode recorrer ao CAS (Corte Arbitral do Esporte), instância máxima nesse tipo de julgamento.
“A tendência é a manutenção da decisão, já que foi embasada na insuficiência de provas. Mas, sim, a FA ainda pode recorrer”, explica.
Já Matheus Laupman, também especialista na área, aponta que o recurso inicial seria feito junto à Comissão de Recurso da própria federação, com possibilidade posterior de análise no CAS.
“Segundo os regulamentos da FA, as partes podem recorrer a uma ‘Appeal Board’. Essa decisão seria considerada definitiva, mas há interpretações que permitem levar o caso ao CAS”, analisa.
Relembre o caso
As acusações contra Paquetá envolviam quatro partidas da Premier League:
- Leicester City (12/11/2022)
- Aston Villa (12/03/2023)
- Leeds United (21/05/2023)
- Bournemouth (12/08/2023)
A FA suspeitava que o jogador teria forçado cartões amarelos para beneficiar apostas realizadas a partir da Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, onde o jogador nasceu. Uma das apostas investigadas tinha valor de apenas 7 libras (cerca de R$ 46), mas o conjunto das movimentações apontava para possíveis ganhos superiores a R$ 600 mil.
A denúncia foi reforçada por alertas da Betway, patrocinadora do West Ham, que identificou movimentações incomuns em seus sistemas.
Agora, o caso caminha para a etapa final: a definição da eventual sanção pela falta de colaboração do jogador durante o processo. A pena pode variar de advertência a suspensão, mas não deve afetar seu futuro no futebol.
Paquetá comemora decisão
Paquetá se manifestou oficialmente sobre a decisão nas redes sociais. O brasileiro destacou que desde o início se disse inocente e agradeceu à família, aos torcedores e ao West Ham pelo apoio durante as investigações. Confira:
“Os inimigos virão contra nós por um caminho, mas por 7 caminhos fugirão.
Desde o primeiro dia desta investigação, mantive minha inocência contra essas acusações gravíssimas. Não posso dizer mais nada agora, mas também não consigo expressar o quanto sou grato a Deus e o quanto estou ansioso para voltar a jogar futebol com um sorriso no rosto.
À minha esposa, que não soltou a minha mão, ao West Ham, aos torcedores que sempre me apoiaram, ao Fernando Malta e à minha equipe jurídica da LEVEL – obrigado por tudo.
Toda glória e toda ronda seja dada a Deus. Uma obra completa”.
Leia o comunicado da FA
“A Comissão Reguladora independente concluiu que as acusações de má conduta contra Lucas Paquetá, do West Ham, por supostas violações da Regra E5 da FA não foram comprovadas.
Lucas Paquetá foi acusado de quatro supostas violações da Regra E5.1 em relação à conduta durante as partidas do clube na Premier League contra Leicester, em 12 de novembro de 2022; Aston Villa, em 12 de março de 2023; Leeds United, em 21 de maio de 2023; e Bournemouth, em 12 de agosto de 2023.
Foi alegado que Lucas Paquetá tentou influenciar diretamente o andamento, a conduta ou qualquer outro aspecto ou ocorrência dessas partidas ao tentar, intencionalmente, receber um cartão do árbitro com o propósito impróprio de afetar o mercado de apostas para que uma ou mais pessoas lucrassem com as apostas.
Lucas Paquetá negou as acusações contra ele, e a Comissão Reguladora considerou que elas não foram comprovadas após audiência.
A Comissão Reguladora considerou que as acusações de má conduta contra o jogador por supostas violações da Regra F3 da FA foram comprovadas.
Lucas Paquetá foi acusado de duas violações da Regra F3 da FA em relação a supostas falhas no cumprimento de suas obrigações de responder perguntas e fornecer informações à investigação da FA.
Lucas Paquetá negou as acusações contra ele, mas a Comissão Reguladora as considerou comprovadas após a audiência. A Comissão Reguladora decidirá sobre a sanção apropriada para essas violações o mais breve possível.
A FA aguarda as razões por escrito da Comissão Reguladora em relação às suas decisões sobre as acusações e não se pronunciará até então”.
Fontes: Lei em Campo