A sigla ESG (do inglês, Ambiental, Social e de Governança Corporativa) não é nova, mas os profissionais de Relações com Investidores (RI) estão sendo cada vez mais pressionados a ampliar sua influência nas empresas onde trabalham para que a agenda avance. Parte da pressão vem dos próprios investidores, mas as companhias também estão tendo de se adequar a novas regras de divulgação sobre riscos climáticos e práticas sustentáveis, como gestão de resíduos e emissões de gases de efeito estufa. A partir de 2026, também fica obrigatória a divulgação de informações ESG junto com as informações contábeis-financeiras do IFRS para as companhias abertas, conforme regra da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Visando ajudar os profissionais e outros gestores de empresas a se adequar a essas novas demandas, o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI) lança nesta semana um documento em que compilar as melhores práticas e traz passo-a-passo para empresas de diferentes portes implementarem práticas ESG em suas operações e, principalmente, na governança.
O “Guia IBRI: Construindo a estratégia ESG” será disponibilizado gratuitamente para download no site da entidade e divulgado a parceiros.
“Fatores ambientais, sociais e de governança são inegociáveis dentro de cada empresa, ou você tem ou não tem”, afirma Renata Oliva Battiferro, presidente do Conselho de Administração do IBRI. Ela pondera que cada companhia deve, porém, entender quais são seus temas mais materiais, os que são mais pertinentes para seu negócio, o que será cobrado de diferentes stakeholders e o impacto que ele causa no mundo.
Questionada sobre por onde as companhias devem começar, ela cita a matriz de materialidade e definição de oportunidades, fortalezas e fraquezas. Contudo, para fazer isso, é preciso ouvir diferentes públicos internos e externos à companhia.
“As métricas e os pesos de cada fator não deveriam ser iguais para todas as companhias. Não dá para comparar uma fintech com empresas intensivas em emissões, como metalurgia e siderurgia, que já estão mais engajadas na agenda ambiental”, diz. Mesmo assim, defende, há sempre algo que dá para melhorar, inclusive em pequenas empresas.
Segundo Jennifer Almeida, subcoordenadora da Comissão ESG do IBRI, a ideia do Guia surgiu a partir de uma provação de um membro da Comissão ESG, que comentou sobre a dificuldade das pequenas e médias empresas em encontrar “o caminho das pedras das práticas sustentáveis”. “Inicialmente pensamos no guia com foco em PMEs, mas percebemos que ele pode ser útil para qualquer empresa”, comenta.
Nos últimos meses, a equipe se debruçou sobre o tema em conversas com consultorias especializadas e executivos de empresas para entender na teoria e na prática os principais obstáculos e necessidades. O resultado foi um material de 48 páginas que pode ser acessado no site da instituição.
Para Almeida, as entrevistas são uma das partes mais interessantes do material por mostrar, na prática, os desafios e oportunidades para empresas de diferentes segmentos. Constam no relatório os casos da varejista Petz, do grupo hoteleiro Tauá, das empresas do agronegócio São Salvador Alimentos e Caramuru, e uma representante do setor financeiro, a Oliveira Trust. “Cada uma tem uma história diferente e uma visão diferente para trazer como referência”, diz a executiva do IBRI. Representantes de algumas das entrevistadas participarão de um evento on-line organizado pelo IBRI em seu canal de Youtube no dia 17 de fevereiro para divulgar o guia.
Com relação às novas regras do IFRS, as normas S1 e S2, Battiferro pontua que nem todas as organizações estão já preparadas, ainda mais porque o nível de detalhamento exigirá investimentos de dinheiro, tempo e pessoal. E reitera que o profissional de Relações com Investidores pode ser um elo relevante neste processo de implementação de práticas ESG e fluxo de divulgação, por já ter embasamento financeiro e de governança muito forte, como conhecimento sobre o funcionamento de comitês, comissões, conselhos fiscais e comunicação.
Ela lembra que a área já faz ponte entre a companhia e o mercado – clientes, acionistas, colaboradores e imprensa – e também se comunica com outras áreas internas, como Financeiro e Comunicação. “O RI estando à frente da agenda ESG e, dado que ele já se comunica com outras áreas, traz um olhar estratégico, de melhoria, aprimoramento de comunicação e sobre o que a companhia não está fazendo”, diz Battiferro.
Mas destaca que é crucial para as companhias que quiserem implementar práticas sustentáveis construir um diálogo entre diferentes áreas, tais como RI, Comunicação e Marketing, Jurídico, Operacional e outras, “quase um ‘squad ESG’”, diz a conselheira do IBRI. Dessa forma, acredita, a companhia consegue trabalhar de maneira estratégica e evoluir nessa jornada, elaborando um plano de ação, definindo as cobranças e prazos e os fluxos de informação.
Nada disso, porém, vai funcionar direito, se não houver engajamento da liderança, do conselho, da presidência e do quadro de executivos. É o que a dupla acredita e foi pontuado nas conversas para elaboração do Guia.
“Não adianta fazer matriz de materialidade se a empresa não tem intenção, tem que ser genuína e não só para preencher formulários”, afirma Battiferro. “A questão cultural é que vai embasar o avanço ESG.”
Ainda sobre o assunto, Jennifer Almeida cita trecho da conversa com Carlos Braga, professor associado da Fundação Dom Cabral, em que diz que leva o tema de ESG aos conselheiros “com a calculadora na mão” para mostrar os riscos, incluindo os financeiros e reputacionais, de não agir. A entrevista com Braga consta na íntegra no Guia. Além de coordenador do Programa “ESG na Sala do Conselho” da FDC e do CRI ESG – Centro de Referência em Inovação & ESG da FDC, Braga é também conselheiro e tem experiência na função em diversas organizações privadas e do terceiro setor.