A era da Pós-Verdade é marcada por fatos que se misturam às emoções e crenças pessoais, em detrimento muitas vezes de situações apuradas ou da verdade objetiva. Esse movimento não é novo, mas tem ganhado destaque e cresce de forma exponencial, em especial em tempos de Covid-19, com pessoas se manifestando mais do que nunca por diversos canais digitais. Hoje, temos 140 milhões de brasileiros que usam ativamente as redes sociais e ficam diariamente mais de 3 horas conectados, muitas vezes criticando marcas. Nesse ambiente de Pós-Verdade é um alerta para que as empresas se preparem para um aumento no risco de reputação, pois eventos (sejam eles verdadeiros ou falsos) podem criar conjecturas irreais, trazendo prejuízos significativos para as organizações.
Estudo do The UK 2021 Report / Reputation Dividend indica que 33,8% do valor de mercado de empresas listadas no índice FTSE 350 da London Stock Exchange estão diretamente relacionados à reputação. Portanto, diante do ambiente digital cada vez mais movimentado, os desafios dos Conselhos de Administração aumentam à medida que os comentários se replicam, em um ritmo alucinante. Antes, as companhias conseguiam se dedicar apenas a temas relacionados aos seus negócios. Agora, com a velocidade do digital e com emoções à flor da pele, os desafios empresariais são ainda maiores, transcendendo os muros das empresas. As discussões tomam conta das redes sociais e puxam as companhias para um novo ringue de batalha, com consumidores mais questionadores e stakeholders mais fiscalizadores do que nunca.
Diante desse novo cenário, totalmente disruptivo, os Conselhos de Administração estão diante de uma encruzilhada, com o desafio de unir emergencialmente os caminhos para uma nova jornada, orientando suas organizações para criarem dinâmicas de comunicação internas e externas, envolvendo todos os stakeholders para não só divulgar fatos, mas, também, para responder questionamentos, críticas e notícias falsas (Fake News).
Apesar de estarmos convivendo com o conceito de Pós-Verdade há muitos anos, o fato que levou à consolidação do termo e quando se notou um aumento na frequência de seu uso, foi em 2016, no contexto do Brexit Referendum no Reino Unido (UK) e da eleição presidencial nos Estados Unidos. Assim, depois de muita discussão, debates e pesquisas, a Oxford Dictionaries elegeu o termo Pós-Verdade como a palavra do ano de 2016.
De lá para cá, esse ambiente está em constante transformação, pois informações verdadeiras estão se mesclando com falsas, de forma exagerada e extremamente perigosa, tendo as redes sociais como autofalantes das opiniões pessoais. O ativismo digital outside-in da sociedade e de stakeholders pode se transformar em um detrator para marcas, ainda pouco conectadas com as atuais mudanças digitais, sociais e comportamentais. Portanto, serão mais bem sucedidas as empresas que conseguirem pensar estrategicamente como estruturar mecanismos para transformar esse ativismo em um impulsionador de marcas.
A tarefa não é fácil. No Brasil e no mundo, o cenário é de muita discussão e de alto risco para companhias de todos os setores. Portanto, entender esses movimentos, os canais e formatos de resposta e de criação de narrativas que sejam aceitas pelos diversos stakeholders são os grandes desafios dos próximos anos. Para tanto, os Conselheiros de Administração serão demandados para ajudarem estrategicamente as empresas a encontrarem maneiras para não só se defenderem de falsas acusações, mas também terem condições de criar canais de diálogo e de prestação de contas e de comunicação constante com todos os públicos de interesse.
Por não existir receita pronta ou fórmulas aplicáveis para todas as empresas e stakeholders, o trabalho de comunicação demanda que a gestão da empresa tenha profissionais especializados e agências de comunicação externas para conseguirem, com independência, propor boas respostas aos questionamentos, levando em conta fatores como seriedade, transparência, preocupação com pessoas, diversidade e cuidados com meio ambiente.
Com os atuais eventos históricos globais, as organizações estão sendo obrigadas a se reinventarem e a criarem estratégias rápidas e eficazes de comunicação para atender às movimentações de seus stakeholders. Essa nova face da Governança Corporativa requer adaptação às complexidades impulsionadas pelas crises e capacidade para se posicionar pela equidade, pelo meio ambiente e pelas pessoas, em prol de justiça social ou mudanças econômicas. Em seus esforços para alcançar a excelência, os Conselhos de Administração devem estar preparados para orientar a alta gestão das companhias a desenvolverem projetos que as ajudem na antecipação de eventuais movimentos, inclusive no que se refere a temas como diversidade, sustentabilidade, transparência, digital e ESG (Environmental, Social and Governance). Sem dúvida, a visão de longo prazo levará as companhias a um modelo de geração de valor, indo muito além do lucro no trimestre.
O risco de reputação será cada vez mais crítico nos próximos anos, o que significa que as empresas precisam urgentemente melhorar suas estratégias, assim como seus sistemas de monitoramento e de resposta para mitigar riscos. Certamente, as companhias que se prepararem para um novo modelo de diálogo com todos os stakeholders serão as vencedoras da nova era.
Fonte: IBGC – https://www.ibgc.org.br/blog/os-desafios-conselhos-era-pos-verdade. Acesso em: 25/10/2021.