O juiz Murilo Silvio de Abreu, da 2ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte, aprovou na quarta-feira (19/3) o pedido de recuperação judicial do Grupo Montesanto Tavares (GMT), um dos maiores exportadores de café do Brasil, responsável por 8% dos embarques brasileiros da variedade arábica. A dívida total do grupo é de R$ 4,96 bilhões. Entre os maiores credores estão Banco do Brasil, com crédito de R$ 742 milhões, Santander (R$ 159 milhões) e Banco Pine (R$ 154 milhões).
O processo envolve as empresas Cafebras Comércio de Cafés do Brasil, Atlântica Exportação e Importação, e suas controladoras Companhia Mineira de Investimentos em Cafés e Montesanto Tavares Group Participações.
O pedido de recuperação judicial foi feito pelo grupo no dia 25 de fevereiro. Na decisão, o juiz determinou a realização de uma perícia prévia, realizada por um perito nomeado pela justiça, para avaliar se o grupo tem condições de se manter operando.
De acordo com o laudo pericial, as empresas do grupo “encontram-se em pleno funcionamento, com atividades administrativas, financeiras e operacionais regularmente desempenhadas”, o que viabiliza a recuperação do grupo.
Na decisão desta semana, o juiz nomeou como administradores judiciais o escritório Paoli e Balbino & Barros Sociedades de Advogados, e a Credibilita Administração Judicial e Serviços.
O Grupo Montesanto Tavares tem 60 dias para apresentar o plano de reestruturação, que precisa ser aprovado pelos credores em assembleia a ser agendada. Como parte da decisão, as ações e pedidos de execução de dívidas ficam suspensas por 180 dias, descontando o periodo concedido anteriormente.
O advogado Daniel Vilas Boas, do escritório VLF Advogados, que representa o grupo, citou como pontos positivos a inclusão dos adiantamentos em contratos de câmbio (ACC) no passivo do grupo, considerados como empréstimos comuns; e a proteção dos bens dados em garantia, como sacas de café e recursos financeiros.
“A expectativa é fazer um alinhamento com os credores para chegar a um consenso sobre o patamar adequado da dívida”, afirmou Vilas Boas. O advogado acrescentou que o grupo espera começar a recuperação financeira com a comercialização da nova safra de café, que começa a ser colhida em maio.
A crise do grupo começou com a quebra da safra 2021/21, quando as lavouras no sul de Minas Gerais foram prejudicadas por seca, geada e granizo. Cafeicultores deixaram de entregar a produção que o grupo havia contratado previamente, o que o obrigou a comprar café no mercado físico a preços mais altos para honrar os acordos de exportação.
Para pagar essas compras, o grupo fez dívidas contratando operações de ACC. Em 2024, a crise do grupo foi agravada pela alta dos preços internacionais do café arábica e pela desvalorização do real. O grupo passou a sofrer com constantes “chamadas de margem” por parte das corretoras e bancos para cobrir o aumento dos preços.
O grupo tem uma rede de 2 mil produtores de café e 177 empregados. Em 2023, comercializou 166,3 mil toneladas de café, exportando para 58 países. A receita da Cafebras atingiu R$ 999,5 milhões em 2023, com lucro de R$ 20,2 milhões. A Atlantica, por sua vez, teve uma receita de R$ 1,61 bilhão, mas um prejuízo de R$ 42,4 milhões.