A BHP, maior empresa de mineração do mundo, está em processo de fechamento de acordos com parceiros no Brasil que farão a distribuição do potássio de sua mina em implantação no Canadá. A ideia é garantir o mercado para o produto proveniente da mina canadense, que, quando atingir a capacidade máxima, em 2031, será a maior do mundo no setor, com 8,5 milhões de toneladas por ano.
Em entrevista ao Valor, Karina Gistelinck, presidente das operações de potássio na australiana BHP, afirma que o Brasil é um mercado fundamental para qualquer produtor de fertilizantes. O motivo é evidente: o país importa mais de 90% de sua necessidade de adubos para uso na agropecuária.
“O Brasil é cerca de 20% do mercado global (em demanda) e tem ainda mais crescimento em vista. Para nós, é fundamental ter acesso a esse mercado e ter parcerias certas”, ela reforça.
Em sua empreitada no segmento de potássio, a BHP pretende manter o DNA de mineradora e não atuará como fornecedora direta do insumo ao cliente final. Por isso, a estratégia escolhida foi buscar parceiros para a distribuição.
Segundo Gistelinck, a companhia já está há anos em conversas com potenciais empresas do Brasil que poderiam fazer parte dessas parcerias. Agora, alguns acordos já estão fechados e outros estão em processo. Por questões estratégicas, a mineradora ainda não pode revelar quais as empresas envolvidas.
Questionada sobre a possibilidade de fusões e aquisições no Brasil, a executiva afirma que não é possível cravar sim ou não. “O que eu posso dizer é que a BHP sempre está avaliando opções de crescimento e sempre gostamos de comparar essas opções (orgânicas) com opções inorgânicas”, acrescenta.
No Brasil, a companhia australiana tem uma joint venture com a Vale na mineradora Samarco. Chegou também a adquirir os ativos de cobre e ouro da Oz Minerals, que já foram vendidos para a GMining no fim do ano passado.
O projeto Jansen, que nomeia a mina no Canadá, marca a entrada da BHP no mercado de potássio. A presidente da operação revela que o projeto foi estudado por muito tempo, cerca de 15 anos, antes de sair do papel.
A aprovação da primeira etapa, batizada de Jansen I, veio em 2021 quando ficou clara a percepção de que o setor de fertilizantes é maduro, composto por grandes fornecedores e empresas globais, como a Rússia, mas que ainda havia espaço para explorar.
“O grande impulso na demanda (por potássio) é o crescimento da população. Se você sobrepõe isso com as mudanças climáticas, que trazem desafios para a produção de alimentos, você tem um quadro de demanda bem interessante”, ressalta.
As secas e chuvas cada vez mais extremas e irregulares tendem a prejudicar a qualidade do solo, o que traz a necessidade de correção por meio da fertilização.
O projeto canadense também faz parte da estratégia da BHP de diversificar suas áreas de atuação e ampliar as opções de oferta de insumo aos importadores. “A diversificação e a possibilidade de contribuir para a segurança alimentar foram os fatores que fizeram o conselho da empresa se convencer sobre projeto Jansen”, afirma.
A mina de potássio está localizada em Saskatoon, na província canadense de Saskatchewan, e o projeto foi dividido em duas etapas devido às proporções. Em 2023, foi aprovada a etapa Jansen II. Ao todo, o orçamento da mina é estimado em US$ 12 bilhões.
Gistelinck diz que, desse montante, US$ 6 bilhões estão sendo utilizados atualmente no Jansen I. A segunda fase terá um aporte de US$ 4,9 bilhões. O valor restante se refere a despesas com estudos e outros gastos iniciais.
“Teremos o produto final na segunda metade de 2026, e o primeiro navio de embarque no fim de 2026 ou no início de 2027. A capacidade da primeira fase da mina, que será atingida até 2029, é de 4,2 milhões de toneladas por ano”, afirma.
Ao mesmo tempo, em 2029 começa a produção da segunda fase do projeto, para chegar ao total de 8,5 milhões de toneladas em capacidade até 2031.