Uma recente pesquisa do instituto de pesquisa Ipsos Public Affairs & Corporate Reputation Brasil, trouxe à luz as percepções dos brasileiros sobre o conceito de ESG (Ambiental, Social e Governança) e a importância do desenvolvimento sustentável no país. De acordo com os dados, um terço (34%) das pessoas ouvidas pela pesquisa conhece o termo ESG, com a maior familiaridade entre as classes A e B. Porém, a maioria não leva em consideração a sustentabilidade ao fazer suas compras e também afirma que vê pouca transparência por parte das empresas das ações que praticam.
O estudo ESG 360º aponta que, entre os que conhecem o ESG, as respostas mais frequentes estão relacionadas ao meio ambiente, destacando a preocupação com questões ecológicas em relação aos aspectos sociais e de governança.
A pesquisa revela que 96% dos entrevistados consideram o desenvolvimento sustentável – o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, cuidado ambiental e social – fundamental para o futuro do Brasil, mas expressam uma visão crítica sobre o progresso das iniciativas nessa área.
“Quando pedimos para as pessoas refletirem sobre cada ponto dessa agenda vimos que o que predomina é uma impressão de estagnação, não de avanço, salvo pelo atributo de ‘acesso a medicamentos/vacinas mais eficazes’”, comenta Priscilla Branco, gerente sênior de Pesquisas de Opinião Pública e Reputação Corporativa na Ipsos.
O combate ao desmatamento foi uma das iniciativas com a pior avaliação, ao lado da redução do uso de plástico e adoção de transporte público elétrico. Por outro lado, a reciclagem e reutilização de embalagens por parte de famílias, acesso a motos, bicicletas e outros veículos individuais elétricos, são destaques dos avanços percebidos.
Essa frustração se estende à performance de empresas e governo: apenas 23% dos brasileiros acreditam que as empresas, por exemplo, estão se saindo bem no cumprimento de ações para a sustentabilidade.
A pesquisa ESG 360º destaca a necessidade urgente de mais transparência e ações efetivas em direção ao desenvolvimento sustentável, refletindo as expectativas de uma sociedade que busca um futuro mais equilibrado e responsável.
A avaliação mediana da atuação das empresas pode ter relação com a baixa clareza na comunicação do que fazem. Mais da metade dos entrevistados (56%) acredita que há pouca informação sobre os projetos de sustentabilidade promovidos pelas empresas.
Priscilla Branco, da Ipsos, explica que, apesar do número crescente de empresas divulgarem os relatórios de sustentabilidade, muitas vezes eles são densos e escritos em linguagem técnica. “São voltados a um público especializado (investidores, técnicos ESG e outros stakeholders)”, comenta. A mesma crítica foi ouvida, segundo a executiva, sobre os relatórios de prestação de contas às comunidades, escritos em linguagem difícil de assimilar.
O grande problema, segundo Priscilla, é que a prestação de contas fica com um caráter exclusivamente “legal”, do ponto de vista jurídico, e não é acessível à população e termos de linguagem. “Nesse sentido, pode haver entendimento de que a comunicação não é transparente”, aponta. A executiva reforça que a responsabilidade da prestação de contas e fazer com que as informações sejam facilmente encontradas por clientes e outros stakeholders é da empresa.
No que diz respeito aos setores específicos, a pesquisa identifica três com o maior saldo negativo em relação a suas contribuições para o desenvolvimento sustentável: automotivo, petróleo e gás, e mineração. Para Priscilla, eles estão mais expostos na agenda climática, mas reitera que todos têm passado por maior escrutínio em relação às suas atividades.
“As pessoas formam essas concepções com base em imagem e no que sabem (ou dizem saber) sobre como esses setores operam. Setores mais distantes do dia a dia da população tendem a ser menos conhecidos e isso certamente impacta na avaliação”, diz.
A pesquisa também elencou as empresas que se destacam na área de sustentabilidade. A Natura lidera o ranking, seguida por Johnson & Johnson e Tramontina, evidenciando a competitividade e a crescente importância da responsabilidade ambiental no mercado.
Consumo responsável
A Ipsos também perguntou às pessoas se elas se consideram consumidores responsáveis, ou seja, se tomam decisões de compra considerando o impacto ambiental e social. Quatro em cada dez (41%) afirmaram serem consumidores responsáveis, sendo que este percentual é ainda mais elevado (53%) entre a classe A. No entanto, quando se trata da disposição para pagar mais por produtos sustentáveis, a população se divide: 38% concordam em pagar mais, 31% discordam e 30% permanecem neutros.
O fator ‘preço’ é um dos empecilhos. Para 77% dos respondentes, as empresas devem criar produtos sustentáveis sem transferir os custos adicionais para os consumidores. Os consumidores que podem escolher e que compram produtos ecológicos mesmo custando mais são minoria (18%) e são pertencentes à classe A.
“A inovação é um fator que pode contribuir com a acessibilidade de produtos sustentáveis para mais pessoas e a educação em termos de hábitos mais sustentáveis precisa ser mais disseminada”, comenta Priscilla.