Nos dois últimos anos, o setor produtivo passou a monitorar ainda mais de perto a situação das principais vias de escoamento da produção agropecuária no Paraná. Os problemas se avolumaram a partir do fim de 2022, quando uma série de deslizamentos paralisou o tráfego em trechos da BR-277, no trajeto que liga Curitiba ao Porto de Paranaguá e ao litoral do Estado.
O trecho ainda é o que mais preocupa e continua no radar, afirma Nelson Costa, superintendente da Federação e Organização das Cooperativas do Paraná (Fecoopar). O tráfego nos períodos do escoamento da safra de grãos chega a dobrar na região, ultrapassando a marca de 50 mil caminhões por mês.
Neste ano, o Paraná será o primeiro Estado a receber a expedição “Caminhos da Safra”, iniciativa da “Globo Rural” em que equipes de jornalistas percorrem as principais vias de escoamento do agronegócio, em diferentes regiões do país, para relatar como está a logística do agro nacional. A edição 2024 da expedição começa nesta sexta-feira (24/5).
No Paraná, a equipe vai percorrer um trajeto rodoviário de mais de 600 quilômetros. O roteiro inclui importantes áreas produtoras agrícolas como Toledo e Cascavel, no oeste do Estado, Guarapuava, no Centro-Sul paranaense e Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais, até chegar ao Porto de Paranaguá, um dos mais importantes para as exportações do agro brasileiro e um dos maiores terminais graneleiros da América Latina.
Nelson Costa, da Fecoopar, conta que dois dos seis trechos da concessão de rodovias estão em operação desde fevereiro deste ano, sendo um desses lotes o que corresponde à ligação da capital do Estado ao terminal portuário. Para Costa, há expectativa de melhorias, mas é crucial que empresas assumam todos os demais lotes previstos para concessão rodoviária no Paraná. A previsão é de que a licitação de dois dos lotes ainda pendentes seja aberta no fim de 2024. Os outros dois devem ficar para 2025.
Outra ação urgente para o Estado, avalia Costa, é o investimento em linhas ferroviárias. “É preciso rediscutir a concessão atual. Nós defendemos uma nova licitação, com a participação de mais empresas, e não a renovação de contrato”, ressalta.
O prazo da concessão da Rumo Logística para operar a Malha Sul — a maior linha ferroviária do Paraná, que corta também Santa Catarina e Rio Grande do Sul — termina em 2027. O governo federal, por meio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), estuda prorrogar a concessão, em vez de fazer uma nova licitação.
Segundo estudo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), contratado em abril de 2023 por Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) e Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Fetranspar), a lentidão da BR-277 causada pelos incidentes registrados desde 2022 podem ter gerado até R$ 448 milhões de prejuízos. Os autores da pesquisa evidenciaram que o setor de transportes “tende a precificar ineficiências operacionais das rotas”.
A Faep também cobra agilidade das concessões rodoviárias no Paraná. A entidade defende ainda pedágios com tarifas mais baixas e realização de obras de acordo com o cronograma. O presidente da federação, Ágide Meneguette, observa que as obras de recuperação, com os novos contratos, ainda não tiveram início efetivo. “As estradas se deterioraram muito com o fim das concessões”, enfatiza.