Os aspectos ambientais, sociais e de governança (ASG) orbitam o radar da estratégia de algumas organizações há algum tempo. Entretanto, quando grandes players como Black Rock, XP Investimentos ou o setor financeiro europeu começam a se manifestar exigindo dados envolvendo esses aspectos para avaliação de riscos e oportunidades dos seus investimentos, há uma sinalização de que essa abordagem representa uma ferramenta indispensável de adequação às novas demandas do mercado e, consequentemente, para a perenidade do negócio.
Para promover um excelente desempenho diante das mudanças externas e da intensificação das pressões competitivas, os líderes devem ser capazes de adaptar suas organizações para novos resultados. Certamente, as atuais transformações exigidas são mais profundas do que as anteriormente apresentadas às empresas, não só porque requerem excelência operacional e resultados financeiros rápidos, mas principalmente por reivindicarem responsabilidade e dedicação em relação às pessoas e ao planeta.
Não existe uma receita única para transformar uma empresa. Cada uma possui exigências particulares, dependendo da sua necessidade, seu estágio de maturidade e desafio de objetivo de futuro. Transformar o desempenho de toda uma organização é um empreendimento enorme, mas pode ser melhor gerenciado quando realizado de forma planejada e estratégica, em ondas de implementação alinhadas às práticas ASG, já que tais condutas facilitam a mudança de mentalidade e de comportamento (cultura) da corporação.
Acelerador da transformação com ASG
A pandemia da Covid-19 acelerou a urgência do processo de transformação com ASG nas empresas. Essa transformação pode parecer uma operação complicada, mas na verdade não é, se olharmos para as organizações como parte integrante de um grande ecossistema e considerarmos a transformação como uma jornada que precisa ser iniciada e construída de forma conjunta com todos stakeholders.
O começo dessa jornada passa pela revisão ou retomada do propósito da companhia. Mais do que nunca, o acionista precisa ser o protagonista desse movimento, considerando: objetivos financeiros; transparência dos impactos socioambientais de suas atividades; valor compartilhado com os stakeholders e perenidade dos negócios. Portanto, nesse novo contexto, o acionista é o principal agente de mudança dessa nova cultura organizacional contribuinte na construção de um mundo melhor.
O conselho de administração também necessita ser aderente à nova cultura e corresponsável pela transformação da empresa, envolvendo na sua análise: a materialização dos impactos socioambientais; KPIs financeiros e socioambientais; métricas que demonstrem a saúde organizacional; recursos necessários e disponíveis para a transformação, a fim de que seja desenvolvida, ano a ano, uma empresa melhor. É importante lembrar que essa cultura de transformação deve permear toda a organização, de forma fluida e contínua, cabendo à liderança a responsabilidade de engajar o público interno nessa jornada.
A condução à transformação.
Estudos têm mostrado que a transparência na governança e na gestão ajudam na valorização das empresas, proporcionando lealdade dos acionistas na continuidade dos seus investimentos e potencializando o sentimento de pertencimento e de orgulho dos funcionários que nelas trabalham.
Métricas de desempenho, de saúde e de impacto socioambiental da organização devem ser desdobradas e monitoradas em todos os níveis e cobradas pelo conselho e alta direção. Além disso, a sua divulgação deve ser realizada para todos os stakeholders. Um desafio chave no programa de transformação é equilibrar o aporte de recursos e esforços para se gerenciar tanto o “desempenho da empresa” (hard skills) como a “saúde da empresa” (soft skills), de forma igualitária e concomitante. Ao se conquistar essa dinâmica, potencializa-se não só o senso de pertencimento, mas também de engajamento das pessoas, já que adquirem novas habilidades e conseguem crescer juntamente com a empresa, tornando-se cocriadoras desse grande ecossistema organizacional.
Ao cuidar da “saúde da organização”, a empresa está gerenciando sua capacidade de se alinhar, de executar e de se renovar mais rapidamente do que seus concorrentes, permitindo um desempenho excepcional ao longo do tempo. Um programa de transformação inicial deve se tornar um programa de melhoria contínua institucionalizada no futuro. Lembrando que, transformação que traz resultado no presente e tem foco no futuro, não precisa ser retomada de tempos em tempos, evitando o desgaste de credibilidade da liderança.
Líder servidor é um princípio a ser seguido. Demonstrar transparência na apresentação dos problemas e demandar cooperação nas suas resoluções, permite aumento da credibilidade e do alinhamento dos executivos junto às equipes, estabelecendo um modelo de gestão a ser seguido. Feedback honesto e construtivo entre colegas e níveis hierárquicos, além da escuta ativa do conselho e alta direção, aproxima e engaja o público interno e externo com mais rapidez. A implementação da transformação com aspectos ASG permite criar bases mais sólidas na organização, seja pela potencialização do engajamento das pessoas ou pela ampliação da percepção dos riscos e oportunidades para o negócio. Além disso, possibilita que as empresas se tornem mais resilientes aos períodos de grandes ajustes, representando uma ferramenta estratégica importante para a perenidade da organização.
Fonte: IBGC. Acesso em: 21/07/2020.