A pauta global da sustentabilidade é uma oportunidade de negócios para a economia brasileira, afirmou o presidente da Comissão de Valores Mobiliárioas (CVM), João Pedro Nascimento, durante o 2º Encontro ESG Abrasca e Apimec. “Tenho falado muito que o futuro é verde e digital. O Brasil [nesse cenário] tem potencial para ser um protagonista global.”
A CVM, disse Nascimento, tem fomentado mudanças regulatórias para ajudar na percepção de valor que organizações mais sustentáveis agregam. “Nossa defesa da pauta começa com a nossa resolução 59, com as regras do ‘pratique ou explique’ em relação à aderência [aos princípios ESG].”
O presidente da CVM também citou avanços sobre ativos ambientais detidos por fundos de investimentos. “A gente incluiu lá no anexo [CVM 175] uma listagem de ativos ambientais que são passíveis de captação de recursos por meio dos fundos de investimento financeiros. Então, na realidade, estamos reconhecendo a possibilidade dos fundos de investimento de montar carteiras de ativos ambientais.”
Nascimento ressaltou que a autarquia tem tido preocupação em relação às utilizações inadequadas dos termos ESG, Verde e similares. “Temos de combater aquilo que a gente tem chamado de ‘greenwash’ [maquiagem verde]. Eu gosto sempre de fazer um trocadilho aqui que tão importante quanto combater o ‘greenwash’ é também combater o ‘greenwish’ [desejo de ser verde]. Às vezes a gente deseja várias questões dentro de uma pauta de sustentabilidade e vende que a companhia ou emissor ou determinado participante de mercado está comprometido com a pauta, mas, se não houver um cuidado coordenado para converter boas ideias em atitudes concretas, você vai ficar no campo do sonho.”
Conforme o presidente da CVM, “é necessário que seja criado um ambiente com harmonização e comparabilidade [de padrões internacionais] para que o Brasil tenha capacidade de se inserir no mercado global [de financiamentos verdes]”. Para Nascimento, o país pode utilizar a pauta da economia verde como forma de geração de valor tanto para agentes públicos quanto privados. “A pauta ESG precisa ser compreendida como um diferencial positivo em favor dos participantes de mercado. É importante, por exemplo, que uma companhia aberta aderente a esses conceitos consiga ter uma percepção no mercado de que tem valor agregado maior do que outros participantes não aderentes a essas práticas, seja na hora de emitir um valor mobiliário ou de negociar um produto.”
Além dos relatórios e da padronização de informações e métricas, as empresas passarão a contar com o apoio de “certificadores da qualidade” das informações reportadas, apontou o dirigente. “O Ibracon [Instituo Brasileiro de Auditores Independentes], por exemplo, terá um papel fundamental. Os contadores terão também uma função dentro do ambiente das empresas de auditoria de certificadores da qualidade das informações reportadas.
“A transformação global em direção à neutralidade de emissão de gases de efeito estufa “traz para o Brasil uma oportunidade de assumir um protagonismo econômico.”
Segundo Nascimento, o país reúne diversas vantagens competitivas, como matriz energética limpa, vegetação nativa preservada, um agronegócio aderente aos princípios de preservação ambiental e muitas outras qualidades. “Enxergando esse movimento da sustentabilidade como um novo ambiente de negócios, há muito a ser explorado pelo Brasil, com muita responsabilidade para promover crescimento econômico e auxiliar um esforço importante de inclusão social.”
Fonte: VALOR ECONÔMICO