Dados do novo levantamento sobre a safra brasileira de grãos, divulgado na quinta-feira pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), indicam que o país tem arroz disponível para abastecer o mercado doméstico, apesar das enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul, Estado responsável por 70% da colheita nacional do cereal.
Segundo a Conab, a colheita de arroz, que já foi finalizada, somou 10,4 milhões de toneladas na safra 2023/24 no país, uma redução de 0,9% em relação ao levantamento anterior, de maio (10,5 milhões de toneladas), mas 3,6% acima da produção no ciclo 2022/23.
“De maneira geral, houve aumento na área plantada em comparação ao total semeado na temporada anterior, algo motivado à época da semeadura pela expectativa de bons preços praticados no mercado do cereal. Porém, o rendimento médio deverá ficar comprometido por conta dos danos às lavouras sul-riograndenses”, afirmou a Conab, em nota.
De acordo com a estatal, a produtividade média das lavouras de arroz no país teve recuo de 2% entre o oitavo e o nono levantamento, saindo de 6,66 quilos por hectare para 6,5 quilos por hectare, reflexo do impacto das chuvas no Rio Grande do Sul.
Em entrevista à reportagem, em meados de maio, Alexandre Velho, presidente da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), afirmou que quando as chuvas chegaram ao Estado 17% das lavouras do cereal ainda não haviam sido colhidas. Segundo ele, a área mais atrasada estava na região central do Estado, uma das que mais sofreram com as chuvas.
Embora os números da Conab indiquem que há oferta para atender o mercado — confirmando o que produtores gaúchos têm afirmado sobre a disponibilidade do produto —, o governo federal mantém a intenção de fazer leilão para importar arroz, para evitar alta de preços. E mesmo após a anulação de um pregão realizado na semana passada, após suspeitas de irregularidades e que resultou na queda de Neri Geller da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura.
Na quarta-feira, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, afirmou que, em até dez dias, o governo já deve ter um edital elaborado, que irá substituir o leilão anulado. Procurado ontem, para comentar o tema, o Ministério da Agricultura não respondeu até o fechamento desta edição.
Segundo o levantamento da Conab, problemas climáticos — incluídas aqui as chuvas no Rio Grande do Sul — fizeram a colheita total de grãos no país recuar para 297,544 milhões de toneladas na safra 2023/24, 7% (ou 22,27 milhões de toneladas) menos que na temporada 2022/23.
A produção de soja, principal cultura do país, foi estimada em 147,35 milhões de toneladas no ciclo que está se encerrando, redução de 4,7% em relação à safra anterior. No Rio Grande do Sul, quarto maior produtor nacional, a queda foi de 1,7 milhão de toneladas e a colheita deve somar pouco mais de 20,2 milhões de toneladas.
Para o milho, a Conab estimou uma produção total de 114,144 milhões de toneladas no Brasil no ciclo 2023/24, consideradas as três safras. O número é 2,2% superior ao levantamento de maio, mas ficou 13,5% abaixo da temporada 2022/23.
O levantamento da Conab mostra que há uma disparidade nas condições climáticas registradas pelo país. A falta ou redução de chuvas em Mato Grosso do Sul, São Paulo e noroeste do Paraná provoca quedas no potencial produtivo dos grãos, segundo a Conab. Enquanto, em Mato Grosso, Pará, Tocantins e parte de Goiás, as precipitações bem distribuídas ajudam a melhorar a produtividade média.
Ainda segundo o levantamento da Conab, o clima também tem favorecido o algodão, cujas lavouras se encontram nos estágios de formação de maçãs e maturação.
Nesta temporada, a área semeada com algodão no país está estimada em 1,94 milhão de hectares, crescimento de 16,9%. Com isso, a expectativa é de incremento de 15,2% na produção da pluma, que pode alcançar 3,66 milhões de toneladas.
Para o feijão, a autarquia estimou incremento de 9,7% na produção total na temporada 2023/24, superando as 3,3 milhões de toneladas. Apenas na segunda safra da leguminosa, a Conab prevê alta de 26,3% no volume a ser colhido, impulsionado pelo cultivo dos feijões preto e do caupi.
Entre os cultivos de inverno, a Conab indicou, em seu levantamento, que o plantio de trigo no país atingiu 46,8% da área. No Rio Grande do Sul, maior produtor do cereal do país, os trabalhos nesta safra estão prejudicados pelas condições climáticas que ainda não são favoráveis devido ao excesso de umidade que impossibilita o manejo das áreas a serem semeadas, disse a Conab.
Por ora, a estimativa da estatal é de que a colheita de trigo no país alcance 9,065 milhões de toneladas, 12% acima da safra passada.
Também na quinta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou seu Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) que mostrou queda na produção de grãos. O IBGE, que considera o ano-civil 2024, estimou que a safra de grãos, leguminosas e oleaginosas deve atingir 296,8 milhões de toneladas em 2024, redução de 5,9% sobre 2023. Em números absolutos, o recuo é 18,6 milhões de toneladas.
A nova projeção do IBGE para a safra ficou 0,9% abaixo da estimativa anterior, com recuo de 2,8 milhões de toneladas.