A disseminação do uso de internet das coisas (IoT) no mercado, potencializada com aplicações de inteligência artificial, atraiu o interesse da fabricante de lubrificantes Iconic. Constituída como joint venture entre a Ipiranga e a Chevron, a Iconic encontrou nessa combinação tecnológica uma saída para reduzir falhas e quebras de equipamentos de produção, com aumento da produtividade e economia nos custos de manutenção.
Desde a implantação do sistema, em abril de 2023, até outubro de 2024, a Iconic, que tem como principais marcas Texaco e Ipiranga Lubrificantes, economizou R$ 2 milhões, ao evitar a quebra e parada de equipamentos. Com quase mil funcionários, a empresa desenvolve, produz, comercializa e distribui lubrificantes, graxas e coolants (substância para regular a temperatura) para 100 mil clientes de 20 segmentos da economia, como siderurgia, mineração e energia. No biênio 2023-2024, vendeu 573.107 milhões de litros de lubrificantes ao mercado.
O estudo do projeto de IoT começou em 2022, conta o gerente-executivo industrial da Iconic, Bruno Ribeiro. Para fornecimento do sistema foi selecionada a Tractian, uma empresa especializada em inteligência artificial fundada por Igor Marinelli, Gabriel Lameirinhas e Leonardo Vieira. Em novembro de 2024, a Tractian fechou uma captação de US$ 120 milhões (cerca de R$ 700 milhões), liderada pelo fundo Sapphire Ventures.
Os sensores de IoT foram instalados para monitorar o funcionamento de motores, bombas, motorredutores e painéis elétricos da Iconic. A empresa possui duas unidades fabris (Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, e em Osasco, São Paulo) e um terminal de óleos básicos em São Cristóvão (RJ). As unidades já receberam 250 sensores, sendo que está previsto alcançar 400 até o fim do ano. Na lista estão 500 ativos considerados críticos. O contrato com a Tractian custa R$ 800 mil por ano. Descontando o custo de manutenção, a economia é de R$ 1,2 milhão, calcula o gerente.
Todos os dados de funcionamento dos equipamentos, como vibração, temperatura e alinhamento, por exemplo, são coletados e transmitidos para a rede neural da Tractian, uma plataforma na nuvem computacional. A partir daí, o sistema emite alertas sobre possíveis falhas e outras ocorrências de acordo com a máquina, explica o engenheiro da Tractian, Matheus Siqueira. “É uma manutenção assistida por IA. É como um copiloto industrial que traz as melhores informações”, acrescenta ele.
Ao receber os alertas, a Iconic envia um eletromecânico ao local para confirmar a ocorrência e fazer a manutenção preventiva. Ribeiro conta que a Iconic recebeu 215 alertas em 20 meses, dos quais 70 eram sobre falhas críticas. “Se não houvesse intervenção, [a bomba] ia quebrar”, diz o gerente. Antes desse sistema, o eletromecânico fazia inspeções periódicas e corretivas – nesse caso, após do funcionamento ser interrompido. Com IoT, o monitoramento é ininterrupto, em tempo real.
Ao longo desses 20 meses, o registro de falhas e desvios de função encontrados nos sensores diminuíram, segundo o Ribeiro. “No fim, terei aumento do volume de produção e de produtividade da fábrica.” Como efeito ‘colateral’, o consumo de energia nas bombas caiu 5%, enquanto a vida útil cresceu 30%.
O aprendizado de máquina possibilita que a IA vá evoluindo de acordo com o monitoramento dos clientes. “O uso de inteligência artificial no projeto nos dá mais conforto e criatividade para pensar em expandir e usar em outro tipo de processo [produtivo]”, diz Ribeiro.
O executivo considera como desafio agora potencializar o uso de inteligência artificial por meio do desenvolvimento dos técnicos da empresa. “Queremos que os equipamentos melhorem, mas também o desenvolvimento e a capacitação do nosso time de funcionários para ter inovação na nossa rotina.” Entre os próximos projetos está o estudo do uso da da tecnologia para reduzir o consumo de água, gás e energia elétrica. “Pensamos em outros sensores e instrumentos para mais segurança do processo.”